"ERA UMA VEZ... UM SONHO...

"ERA UMA VEZ... UM SONHO...

... o sonho de manter acessa a chama vibrante, intensa e colorida da infância. Um tempo marcado pelo encantamento da atmosférica onírica que rege a primeira e mais importante fase de nossas vidas. Uma época singular, rica, pessoal e intransferível..." Pedagogia do Amor (Gabriel Chalita)

Ser professor é...

Ser professor é... Ser professor é professar a fé e a certeza de que tudo terá valido a pena se o aluno sentir-se feliz pelo que aprendeu com você e pelo que ele lhe ensinou... Ser professor é consumir horas e horas pensando em cada detalhe daquela aula que, mesmo ocorrendo todos os dias, a cada dia é única e original... Ser professor é entrar cansado numa sala de aula e, diante da reação da turma, transformar o cansaço numa aventura maravilhosa de ensinar e aprender... Ser professor é importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma planta muito rara que necessita de atenção, amor e cuidado. Ser professor é ter a capacidade de "sair de cena, sem sair do espetáculo". Ser professor é apontar caminhos, mas deixar que o aluno caminhe com seus próprios pés...

domingo, 17 de abril de 2011

Competências e habilidades em língua portuguesa
João Antonio Viesser



“Os livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas.
(frase atribuída a Caio Graco, político romano . 154-121 a.C.)

            Toda mudança é uma decisão, e ela deve, necessariamente, ser interna. Pessoas, sociedades, instituições, empresas e até as nações, quando decidem mudar, o fazem por decisão intrínseca. É como uma porta em que só existe maçaneta na parte de dentro da casa. Quem está dentro é que decide ou não abrir a porta. De fora vêm os desafios, as provocações, as sugestões de mudança, mas a decisão de abrir a porta é pessoal.     Qualquer outra atitude de abrir a porta é um arrombamento, uma aviltação, tirania. Na história, as mudanças significativas sempre foram causadas por decisões pessoais e quando foram impostas, de fora para dentro, fracassaram. Numa esfera menor, no entanto, sem menos importância, o mesmo aplica-se e acontece numa sala de aula. Leis, decretos, programas de governo, projetos políticos pedagógicos, provocarão mudança quando há decisões pessoais por parte de quem ensina e de quem aprende.
            O ensino da língua portuguesa, se calcada numa perspectiva de mudança, que gere uma prática pedagógica que se comprometa com o exercício da cidadania, deverá ter uma visão mais clarificada do meio em que atua, em que as diferenças sociais, econômicas e culturais são tão visíveis. É necessário uma visão mais ampla do ideal de pessoa que se deseja formar. Aristóteles, filósofo grego, destaca a humanização da língua, como aponta Chauí (2000):
         
Na abertura da sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um .animal político., isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem voz (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (logos) e, com            ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em comum esses valores é o que torna possível a vida social         e política e, dela, somente os homens são capazes.
           A educação para a cidadania não é uma tarefa exclusiva da escola, já que o professor não é o único que ensina. No entanto, como espaço próprio e específico de reflexão sobre o conhecimento, deve oferecer um ambiente acolhedor e de promoção de aprendizagens científicas, confrontadas com a bagagem de conhecimentos que o aluno traz de sua realidade social. Como Lula (2009) já disse: .Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você teve. Não tem nada mais burro que isso. A escola te dá conhecimento. Inteligência é outra coisa..           
           O ensino tradicional da língua portuguesa centrou seus esforços no domínio do sistema gráfico, isto é, aprendizagem de um código comunicativo, como se fosse uma habilidade que pudesse ser treinada. Ao longo desse período o ensino da língua portuguesa passou por diferentes concepções, a saber:
1) Ensino da língua como .expressão do pensamento.: concepção que foi sustentada desde a tradicional gramática grega e só rompido no início do século XX, depois da publicação dos estudos de Saussure (1969). Por essa concepção, o pensamento é uma produção da mente das pessoas e a capacidade de organizá-lo vai se expressar na sua exteriorização, por meio da linguagem. Quer dizer, quem .fala e escreve bem. é porque pensa bem e, ao contrário, quem se expressa mal, isto é, fala de modo diferente da norma culta, é porque .pensa mal.. Desse modo, o ensino da língua portuguesa centrou todos os seus objetivos no ensino que enfatiza a gramática normativa. Essa concepção se fez presente no Brasil até os anos 1960, mas não totalmente erradicada, pois em muitas salas de aula ainda está presente.
2) A linguagem como .instrumento de comunicação.: concepção em que a linguagem é vista como .um código., mensagem de um emissor a um receptor, sem a veiculação de sua função social. Essa concepção, rompida também após Saussure (1969), esteve presente na educação brasileira por ocasião da tendência tecnicista (período em que se consolidava a ditadura militar no Brasil, iniciada com o golpe militar de 1964). Essa concepção de linguagem não abandona o ensino sistemático da gramática tradicional e centra o estudo da linguagem numa bateria de exercícios, com base no princípio de que a repetição causaria atenção e memorização da norma padrão. Esses exercícios se proliferaram em livros didáticos e apostilas por meio de intermináveis exercícios mecânicos, como: .siga o modelo., .faça o que se pede., .preencha as lacunas., .numere as colunas. e ao ensino de .técnicas de redação..
3) A linguagem como forma de interação: as duas concepções anteriores veem a linguagem desfocada de seu objetivo, que é o resultado de um trabalho coletivo, e por isso, de origem sócio-histórica, produzida em momentos diferentes e particulares da história. Nesse contexto, a palavra diálogo se torna o elemento unificador das linguagens e o sujeito-leitor passa a ter uma nova visão, de não mais receptáculo de informações, mas de quem dialoga com o texto. Passaram, então, a ter valor a variação dialetal, os diferentes gêneros textuais, e a produção de texto do aluno. Nos PCNs de língua portuguesa (BRASIL, 1998) os gêneros discursivos tornaram-se o objeto de ensino, responsáveis pela articulação e progressão dos programas curriculares.
            Dentro dessa concepção de linguagem, a missão da escola de levar o aluno a conhecer a realidade, de transformá-la e de agir sobre ela, passa pelo entendimento de que a escola não é uma mera transmissora de informações, pois, embora os alunos vivam numa .sociedade da informação., ela por si só não gera conhecimento. Conhecimento não se reduz à informação, mas vai além dela, é um .segundo estágio., responsável por se trabalhar a informação. No terceiro estágio atinge-se a sabedoria, que é ação sobre a informação.
            Dentro dessa mesma concepção, o próprio conhecimento passa a ser visto não mais como único e inquestionável, pronto e acabado, mas analisado pela diversidade de perspectivas, relatividade das teorias, multiplicidade de interpretações e a própria caducidade do conhecimento. Nesse sentido, a sala de aula passa a ser vista como mais que um espaço para trabalhar o conhecimento, mas também como espaço de diminuição das desigualdades sociais.
            Um dos documentos mais importantes para o professor da área de português é o PCNs de língua portuguesa (1997), que coloca como objetivos:
            Para que essa expectativa se concretize, o ensino de língua portuguesa deverá organizar-se de modo que os alunos sejam capazes de desenvolver competências e habilidades, a saber · expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos . tanto orais como escritos . coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados;
· utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam;
· conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado;
· compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz;
· valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos;
· utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.;
· valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário;
· usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica;
· conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.
            Sendo assim, o ensino da língua portuguesa se reveste de um princípio importante, em que as práticas educativas são organizadas de forma que os alunos possam adquirir e desenvolver mais do que os conhecimentos específicos dessa área, mas também competências básicas, habilidades e atitudes que se transformam nos conteúdos da língua.
            .Na abertura de sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um    animal político, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem.           (Chauí, 2000)

REFERÊNCIAS
CHAUI, M. Convite à Filosofia. Ed. Ática: São Paulo, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília, DF:
1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf>. Acesso
em: 08 mar. 2010.
"Ser professor é encarar uma situação nova a cada da e transformá-la em uma realização bem-sucedida."